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Nas ondas da Bureo

Os mapuches foram um dos primeiros habitantes da costa chilena. As ondas do Oceano Pacífico sempre bateram nas areias cinzas das praias pertencentes ao território deste povo originário da América do Sul, desde antes da colonização espanhola. Famosos pelos seus guerreiros heroicos nas guerras coloniais, que resistiram às invasões da armada real da Espanha, esta etnia hoje habita uma região castigada pela poluição de suas águas.

Alonso de Ercilla y Zúñiga já narrava a brava história dos mapuches no poema La Araucana: “Não houve jamais rei que conseguisse sujeitar esta soberba gente liberta, nem estrangeira nação que se jactasse de haver pisado seus territórios, nem terra comarcana que ousasse mover-se contra ela ou levantar-lhe espada. Essa gente sempre foi livre, indômita, temida, com lei própria e cerviz erguida”. Mesmo resistindo aos poderes da metrópole, o tempo não foi gentil com este povo originário, que viu seus mares virgens sendo invadidos pela poluição dos novos tempos.

Buscando uma solução desse problema tão contemporâneo, três amigos dos Estados Unidos escolheram o Chile para começar um projeto ousado, somando estilo à sustentabilidade. Homenageando o povo habitante dessa região, os norte-americanos deram o nome à sua empresa de Bureo, palavra que significa “ondas” no idioma mapudungun, língua dos mapuches.

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A Bureo tem como objetivo usar redes de pesca recicláveis para fabricar armações de óculos de sol e shapes de skate. Até o momento o projeto batizado de Net+Positiva já retirou milhares de quilos de plásticos poluentes dos mares chilenos. O resultado se vê nos números de peças fabricadas com o material coletado: 10 mil pares de óculos de sol e aproximadamente 7 mil skates.

Para sabermos mais do processo de fabricação dessas armações de óculos e shapes de skate, falamos com um dos fundadores da Bureo, o norte-americano Ben Kneppers, que nos explica em que regiões do oceano esses plásticos são coletados e todo o processo que eles são submetidos até virarem um produto comercial.

Confira a entrevista com Ben Kneppers:

F: Como surgiu a ideia de usar redes de peca recicladas para fazer óculos e skates?

B: A ideia veio após ficarmos cansados de achar plásticos poluindo todas as costas e oceanos do mundo. Nós pesquisamos e constatamos que a forma mais prejudicial de poluição deste tipo vem das redes de pesca, então decidimos fazer algo a respeito. Pensamos que poderíamos transformar esse material tão nocivo em algo positivo, mudando a perspectiva das pessoas ao ver essa situação.

 

F: Como as redes de pesca são coletadas?

B: Em 2013, nós (Bureo) armamos a primeira coleta de rede de pesca e programa de reciclagem do Chile, batizado de Net+Positiva. Nós fizemos parcerias diretamente com sindicatos de pescadores ao longo da costa chilena, dando a eles recursos e infraestrutura para possibilitar a coleta das redes de pesca quando elas atingem o “fim da linha”. Com isso podemos reciclar mecanicamente elas. Agora, nós temos uma equipe de trabalhadores locais administrando o programa em cada área, o que lhes permite obter uma renda da Bureo, já que nos estamos comprometidos em fornecer fundos de volta à comunidade por cada quilo de rede de pesca que coletamos.

 

F: Como nasceu a Bureo?

B: A Bureo começou como uma ideia entre três amigos (David Stover, Ben Kneppers e Kevin Ahearn) em 2012. Queríamos fazer algo sobre o problema da poluição crescente de plástico nos oceanos. Temos formação em Engenharia Mecânica, então aproveitamos isso para nos aproximarmos da questão entrevistando especialistas e lendo jornais científicos. Descobrimos que transformando o plástico em um produto de grande valor nós podemos cobrir os custos adicionais necessários para prevenir todas as formas de poluição nos oceanos.

 

F: Como são divididas as operações da Bureo?

B: Estamos operando entre o Chile e os Estados Unidos. A coleta das redes de pesca e a reciclagem são realizadas em território chileno, enquanto nosso escritório comercial opera em Ventura, na Califórnia.

 

F: As redes de pesca são coletadas em que partes do Oceano?

B: Nós atualmente coletamos redes no Oceano Pacífico, em cinco regiões do Chile: Iquique, Coquimbo, Maule, Concepción e Puerto Montt.

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F: Como é feito o processo de fabricação das armações e dos shapes feitos de redes de pesca recicláveis?

B: Nós fazemos uma triagem e lavamos as redes de pesca. Depois, transportamos para uma empresa de reciclagem na capital chilena que faz o método mecanicamente. Após esse processo, transformamos o material em pellets de plástico (grânulos) que são utilizados na moldagem por injeção, dando forma ao shape e à armação.

 

F: O material reciclado é bom para a fabricação dos shapes de skate e das armações de óculos?

B: As redes de pesca recicladas resultam no Nylon 6, que é um material altamente reciclável e durável. Normalmente o plástico reciclado tem menos qualidade em relação a um plástico virgem. Só que nós tivemos muito sucesso trabalhando com esse material para a produção dos shapes de skate, assim como as armações de óculos de sol.

 

F: Vocês exportam esses produtos?

B: Nós atualmente vendemos nossos produtos para 10 países, mas infelizmente não no Brasil. Nós adoraríamos estar aí, mas é muito caro a importação no território brasileiro, o que resulta em um preço de varejo muito alto para nossos consumidores.

 

por Bruno Núñez.

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