Telas, telas e mais telas - Frames

Telas, telas e mais telas

Nos bancos das praças, dentro dos ônibus, caminhando pelas ruas,  e até no quarto escuro, o brasileiro está freneticamente conectado ao smartphone. Só para se ter uma ideia, uma pesquisa recente do IBGE mostrou que, em 2014, o celular se tornou o principal meio de acesso à internet no país. Já o maior levantamento dos hábitos de mídia no Brasil, a PBM 2015 (Pesquisa Brasileira de Mídia), realizada pelo IBOPE, mostra que 49% da população tem acesso à internet, 1% a mais que em 2014. Em plena era da informação esta seria uma boa notícia se as telas eletrônicas não causassem efeitos colaterais nos olhos. Mas a história, infelizmente, não é bem assim.

Quando o assunto é saúde ocular, uma pesquisa que realizei com 1,2 mil pacientes do Instituto Penido Burnier, em Campinas, mostra que a vida digital está afetando a visão de quem fica com os olhos colados nas telas por horas a fio. Esse levantamento revelou que 75% se queixaram de dor de cabeça, cansaço visual, olho seco e visão turva. Quanto menor a tela, maior é o cansaço visual que pode ser reduzido com óculos apropriado. São os sintomas da síndrome da visão no computador, conhecida internacionalmente como  CVS (Computer Vision Syndrome). Isso acontece porque os equipamentos foram projetados para serem usados próximos. Manter o foco para perto por mais de duas horas  provoca estresse visual. Outro fator é a formação das imagens e textos por pontos eletrônicos, os pixels, que são mais brilhantes no centro e menos intensos em suas bordas. Isso faz com que seja mais difícil para os olhos manter o foco sobre elas.

Menos lágrimas, mais problemas

O número de piscadas de quem fica horas seguidas em frente a um monitor também diminui e contribui com o CVS.  Normalmente, piscamos cerca de vinte vezes por minuto e na frente dos  monitores de seis a sete vezes. Isso aumenta a evaporação da lágrima que tem duas funções: proteger a superfície dos olhos e manter a saúde da córnea pela constante renovação do oxigênio.

Vale ressaltar que em situações extremas a redução da lágrima pode lesar a córnea, especialmente entre usuários de lentes de contato. Quem trabalha o dia inteiro em um ambiente climatizado diante de um computador fica com os olhos ainda mais secos porque o ar condicionado resseca a lágrima a ponto de muitas pessoas abandonarem  o uso das lentes. Nem todos podem deixar de usar as lentes. Muitos portadores de ceratocone só enxergam com lentes de contato e devem usar uma lágrima artificial indicada por um oftalmologista.

O avanço da miopia

No mundo todo, a miopia, dificuldade de enxergar à distância,  está em ascensão. No Brasil não é diferente. Uma metanálise de 147 estudos realizada por um grupo de pesquisadores da AAO (Academia Americana de Oftalmologia) mostra que a prevalência de miopia no Brasil deve saltar de 27,7% em 2020 para 50,7% em 2050, um crescimento bem maior do que entre americanos. Este  avanço  é mais uma evidencia de que a miopia poder ser causada pelo estilo de vida, além da herança genética

O uso intensivo do computador, mais uma vez, é o fator por trás desse aumento. No consultório, é frequente o atendimento de pacientes míopes que têm aumento do grau quando permanecem estudando por muitas horas diárias para concursos ou vestibulares. Além disso,  no estudo conduzido no hospital, participaram 360 crianças de 6 a 9 anos que passavam até seis horas ininterruptas utilizando o  computador e outras tecnologias. Entre elas, 21% apresentaram dificuldade de enxergar de longe, contra 12% para esta faixa etária apontado pelo CBO (Conselho  Brasileiro de Oftalmologia).

No caso das crianças as telas causam uma miopia acomodativa, que está relacionada ao esforço para enxergar de perto e pode ser revertida com mudança de hábitos, diferente dos adultos, que já estão com os olhos completamente desenvolvidos.  Para que a visão da criança não fique acomodada a enxergar só o que está próximo, a recomendação é descansar de 20 a 30 minutos a cada hora de uso do computador, videogame, smartphone ou outra tecnologia. A maior acomodação do olho na infância também torna a visita anual ao oftalmologista obrigatória. Os pais também devem estimular a praticar de atividades ao ar livre. Isso porque, até 8 anos de idade a visão está em processo de desenvolvimento e precisa ser utilizada para todas as distâncias.

 

Dr. Leôncio Queiroz Neto é presidente do Instituto Penido Burnier, de Campinas/SP, e membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Escreve uma coluna quinzenal sobre Saúde Ocular.

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