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Quem vive e entende

É impossível dissociar Tais Remunhão do conceito de sustentabilidade na moda, porque muito antes de ser uma profissional ela é uma pessoa que tem um lifestyle todo pautado em uma vida ética, sustentável e que respeita a natureza. Professora de moda das duas mais conceituadas faculdades de São Paulo, Santa Marcelina e FAAP, os trabalhos no campo eco começaram no TCC, quando o interesse por alternativas verdes se transformou em pesquisa.

tais-remunhao-sustentabilidade-modaO fruto dessa consciência toda foi uma marca com produção própria de tecidos a qual ela se dedicou em meados de 2008, onde a principal matéria prima eram as fibras naturais biodegradáveis, como o linho, a seda e o algodão, e onde praticamente tudo era reciclado, até os pequenos fios que sobravam na tecelagem. O maior diferencial da produção de Taís sempre foi a ideia de trabalhar em comunidades, o bordado era feito coletivamente, as mães que moravam nas comunidades próximas faziam os tricôs e assim por diante.

A mágica acontecia em Minas, onde também tinha um laboratório só para o desenvolvimento de tecidos. Lá os resíduos eram transformados em acessórios e embalagens para embrulho. Toda essa ideia de uma cadeia estruturada de forma consciente levou Tais para o salão Soeduc, com foco em moda ética na Prêt-à-Pôrter em Paris. Se tornou professora por acreditar em uma mudança progressiva por meio da educação e da troca e hoje defende a que devemos olhar, sobretudo, para como tratamos o descarte no mundo fashion. Confira a entrevista que fizemos com ela:

Como está o cenário da moda sustentável no Brasil hoje?

O Brasil tem uma capacidade imensa nessa questão sustentável, o brasileiro é muito criativo, reutilizar as coisas é da sua natureza, acontece de forma espontânea. Nós temos uma grande parte da população de classe média baixa e classe baixa, que sempre tem que reutilizar as coisas, achar novas funções o que torna a questão cultural. As necessidades e a criatividade levam ao trabalho em comunidades, aos trabalhos manuais e artesanais e, consequentemente, a atitudes éticas.

Na era do consumismo como fica a sustentabilidade?

As pessoas entraram em um looping de consumo, que vem muito da cultura dos Estados Unidos, o que acaba impactando no mundo inteiro, não só no Brasil. Mas hoje o lixo que esse consumo todo gera é uma questão que deixou de ser empurrada para debaixo do tapete, porque o lixo começou a aparecer. Então, as pessoas mais conscientes, que se preocupam com o meio ambiente, que se preocupam com o outro, começaram a ter voz. A internet também ajudou muito, porque é mais fácil achar pessoas que defendem a mesma causa. Isso tudo está fazendo com que o consumo seja questionado e com que as pessoas pensem mais a respeito.

Maiô Svetlana

Maiô Svetlana, marca carioca vegan que só produz com materiais sintéticos e vegetais

E como isso está efetivamente impactando na produção fashion?

O que está acontecendo é que as empresas estão começando a lidar de outro jeito com o descarte, porque ele vai continuar a existir, então é preciso pensar no que fazer com ele. A amazonas, por exemplo, lançou na última coleção um solado só feito de outros solados, ficou colorido e lindo. Essa característica visual do reciclado vai começar a virar moda. A mesma coisa para os desfibrados, que são poliésteres reciclados misturados com algodão, eles tem uma característica, uma cara, que vai ganhar a moda. Economicamente isso acaba sendo positivo, você está reutilizando matérias primas e diminuindo o custo.

Como esse pensamento afeta o fast-fashion, que é um setor que cresce muito com a ideia de moda sazonal?

O Fast fashion também tem que pensar nessa questão do descarte, porque com a crise, por exemplo, as pessoas estão comprando menos e os estoques ficam inflados, gera descarte, que tem que ser reutilizado para não dar prejuízo.

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Camisetas sem gênero Nicole Bustamante – Vegan Goods, feitas a mão, com estamparia exclusiva e matérias primas 100% vegetais e sintéticas

Fora daqui o que podemos tirar de exemplo?

Nos EUA, por exemplo, já existem os coletores, que são caixas próprias para recuperar tecidos. Depois de coletados eles seguem para lugares específicos de separação dos tecidos, porque para fazer uma reciclagem consciente e limpa também é preciso separar esses tecidos por tipos e fibras, para que esse material possa se transformar em matéria prima nova, mas de qualidade.

Como o consumidor está pressionando a indústria da moda para uma produção consciente?

O consumidor está cada dia mais atento e crítico, isso vem dos filmes, documentários, tudo tem contribuído para o despertar da consciência. Falar que é sustentável por marketing já não funciona mais. O que é legal é que as pessoas conscientes não esperam mais vir das empresas a iniciativa, elas criam os selos e certificações, blogs de denúncia, aplicativos de rastreamento. Essas exigências e pensamentos incentivam a criação das marcas independentes e mais, das colaborações, uma produção que une pessoas com os mesmos valores. Produção colaborativa é uma grande tendência, nela todos os setores estão integrados, o tecido, o bordado, a costura, tudo funciona junto.

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Vestido de crochê Gustavo Silvestre, estilista que usa lona de caminhão, garrafas PET recicladas, retalhos de tecidos e tinturaria natural.

Você trabalha com a próxima geração que vai entrar no setor, como é isso?

É muito legal perceber que os alunos não estão engessados pela grande indústria. Fizemos uma viagem para a Itália e o que mais chamou a atenção deles foi a produção com lixo. Já vi muitos deles se oporem a oportunidades que envolvem grandes nomes porque não havia uma preocupação com a ética.

Sendo assim, o que esperar para o futuro?

O futuro é a educação e a economia criativa. Ao mesmo tempo que estamos falando de sustentabilidade tem gente falando de tecnologia, isso aliado é o futuro. Ao mesmo tempo que precisamos pensar em ética precisamos de tecnologia, porque um tecido de esporte, por exemplo, tem que ser resistente e não pode absorver umidade, então o futuro vai ser a combinação disso.

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Sapatos veganos Insecta, marca que faz reuso de peças vintage

Por Rafaela Putini

Fotos: Divulgação/ Reprodução

 

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