Seus óculos têm história. A Allfenas, marca que surgiu em Bauru, no interior de São Paulo, é sobre isso, sobre trazer, além da armação de madeira, toda a história que ela carrega. Como matéria prima, cadeiras de balanço, molduras de quadro, restos de marcenaria, móveis improváveis. O conceito principal? Levar a origem da madeira para o rosto dos clientes.
O princípio foi um desafio despretensioso do professor da disciplina de Materiais e Produtos da faculdade de Kelvin Almeida, um dos sócios, que propôs a criação de um óculos de madeira. A sala se dividiu em grupos, seis meses se passaram e nada. Mas, Kelvin simplesmente não conseguiu desistir. Ali começava a nascer uma marca, a Allfenas, que virou realidade quando Breno Gomes, um amigo de longa data, decidiu embarcar na ideia.
Juntos eles criaram um protótipo, torto e sem ergonomia, que nas madrugadas, entre 11 e 3 da manhã, durante um ano, foi sendo trabalhado e melhorado. Em novembro de 2015 os óculos Allfenas vinham oficialmente ao mundo, com campanha, divulgação e muita história para contar. No começo um único produto levava um mês, hoje são produzidos de 70 a 80 em apenas uma semana.
O que tornou o sonho real foi a percepção dos dois de que tinha muita madeira nobre sendo destinada para queima ou simplesmente sendo largada por aí. A primeira linha veio de uma cadeira de balanço de 1950, que originou 60 peças. “Toda vez que a gente vai coletar uma madeira fazemos tipo uma entrevista, para descobrir de onde ela veio, a classificação, a idade, entre outras coisas”, contou Breno.
Para descobrir de onde veio a armação basta olhar para a haste, que vai te contar se foi de um armário, de uma moldura ou de uma cadeira. Para eles toda a madeira tem valor, que precisa ser redescoberto depois que ela perde a função no ciclo comercial tradicional. Com muita pesquisa e ajuda de professores, eles conseguiram redescobrir esse valor, transformando a matéria prima em armações de apenas 25 gramas, que custam em média 350 reais.
Para o futuro, uma coisa: não parar de criar. Os sócios, que hoje conhecem madeira pelo cheiro, prometem, logo logo, uma linha de relógios, cadernos e outros acessórios com a mesmo conceito e feitos da mesma matéria prima, além da coleção “Série Limitada”, feita apenas com madeiras raras que devem render, no máximo, 10 peças. Para eles o mais legal é a versatilidade de carregar um conceito tão forte como o que eles carregam. “Hoje a gente consegue fazer um óculos que vai no rosto de um senhor de 60 e no de um adolescente de 16”, concluiu Kelvin.
Por Rafaela Putini