Pense por um momento em nomes como Michael Jackson, Freddie Mercury e Beyoncé. O que eles te lembram? Para muitos, as primeiras memórias são os passos de Michael em Smooth Criminal. Para outros, os vocais de Beyoncé em Crazy in Love. Mas, para antigos fãs de rock, a energia de Mercury é com certeza a memória mais viva.
Pequenas características como essas formam, diariamente, o perfil de diferentes artistas. Inclusive, em muitos casos, tal personalidade pode levar anos até se consolidar na indústria fonográfica.
Construir essa identidade visual faz parte do processo criativo de qualquer artista. Basta pensar nos nomes mencionados anteriormente. Cada um possuiu, e possui, uma marca, e em cada álbum isso fica nítido, independente da proposta estética adotada. Vale lembrar que neste caso não estamos falando somente de influências melódicas, mas também de um guarda-roupa inteiramente diferente.
Não é nova a forma como cantores mergulham em temáticas diferentes de álbum para álbum. Mas o que questionamos aqui foi o jeito como estes se apropriaram de uma cultura atípica para recriar o seu visual.
Descubra por que determinadas personalidades se permitiram mergulhar na cultura country, a inovar por completo o seu jeito de se vestir e performar.
Era “Music”, Madonna
Conhecida por sua postura sexy e feminina, Madonna desde os anos 80 carregou consigo a imagem de menina/ mulher que toda adolescente gostaria de ser. A surpresa estava por vir na virada de um novo século, junto a proposta do seu oitavo álbum de estúdio: Music.
Em uma entrevista ao programa Style with Elsa Klensch, da CNN, o fotógrafo Jean-Baptiste Mondino disse ter sido o responsável por idealizar este tema para o álbum. “Ela não estava segura no começo, mas eu disse a ela que não iria desafiá-la caso não gostasse. Por fim, ela amou o resultado final!”.
Nos seus clipes foi visível a forma como calças jeans, chapéus de cowboy e cintos de fivela ganharam vida. E se pensa que o pop é deixado de lado por conta da aposta você está completamente errado! A fusão de estilos surpreendeu críticos, que junto a premiações tornaram este um dos melhores álbuns da cantora.
Durante uma análise sobre o CD, o autor Santiago Fouz-Hernándes abriu o jogo sobre o álbum. Em meio às páginas do livro Madonna’s Drowned Worlds: New Approaches to Her Cultural Transformations, ele explica que “nessa aparência Madonna pode estar parodiando e criticando o country, que simboliza, entre outras coisas, a supremacia do homem branco, a ambição dos pioneiros europeus e o sonho americano. Entretanto, não percebemos que [esse estilo] reconhece a importância do country na cultura popular americana”.
Era “Younger Now”, Miley Cyrus
Se existe alguém capaz de se modificar 100% é ela. Miley, assim como muitas artistas, começou sua carreira muito cedo. Aos 16 anos, a filha do cantor country Billy Ray Cyrus já lançava o seu primeiro projeto solo. Com uma linha mais pop/rock, ela já deixava claro que sua aposta inicial era diferente da esperada pelo pai.
Responsável por interpretar a personagem Hannah Montana, do canal Disney Channel, a artista se manteve ligada a personagem de cabelos loiros durante 6 anos. O primeiro desafio: mostrar ao público quem de fato era a Miley. A esperança: fazer sucesso mesmo após a adolescência.
“É muito difícil quando seu público é pré-adolescente porque, quando essas crianças crescem, o que antes era considerado legal se torna motivo de vergonha e eles não admitem que eram fãs dois ou três anos antes”, explica o editor-chefe da revista “Pollstar”, Gary Bonguivanni.
Mesmo com os receios, Miley conseguiu alcançar resultados louváveis com “Breakout”- título do primeiro álbum. Estreia em #1 no Billboard 200 nos Estados Unidos. Single em #84 no Hot 100. Suas conquistas estavam indo bem melhor que o esperado. E assim continuaram pelos anos seguintes.
A primeira grande mudança ocorreu de fato durante e após o seu terceiro álbum de estúdio, “Can’t Be Tamed”. Ainda que houvesse alcançando uma evolução estética, musical e comportamental, Cyrus não se contentou com o resultado da produção. De acordo com a cantora, ela buscava alcançar algo mais maduro e sexy.
Em 2013, as portas enfim se abrem ao assinar contrato com a RCA Records, e então nasce o “Bangerz”- quarto álbum da cantora. Todo o estilo conservado vai embora, e uma nova personalidade surge. Roupas mais curtas e um cabelo diferente das longas madeixas castanhas dão vida a nova Miley, que de acordo com a mesma, sempre foi a verdadeira.
“Eu passei muitos anos fazendo algo que não sou eu”, disse em um documentário a MTV americana. “Agora eu sinto que eu posso ser a vadia que eu realmente sou”.
Depois de apresentações chocantes e confissões inimagináveis, ela alcança um destaque jamais esperado por uma estrela vinda de uma emissora infantil. Muitos abraçaram a ideia que remetia originalidade, outros a condenaram friamente. A conclusão é que toda a mudança estava dando certo.
Após 4 anos do lançamento de Bangerz, todos já esperavam um material novo. É então que por meio de uma jaqueta preta de couro falso a artista anuncia o nome e data de lançamento do seu novo trabalho, “Younger Now”.
O material foi resultado de uma nova etapa. Em entrevista para a Billboard no último ano, a cantora afirmou o abandono do álcool e de drogas ilícitas, junto a uma nova relação estável com seu antigo noivo, Liam Hemsworth. “Gosto de me cercar de pessoas que me querem bem, mais aberta e madura. Então percebi que essas mesmas pessoas não são as que ficam chapadas comigo. Hoje eu estou completamente limpa”, afirmou.
Com a matéria foi publicado um ensaio fotográfico exclusivo. Nele, Miley apresentou seu novo visual. Este agora repleto de referências countries.
Muitos afirmam que a nova aposta da cantora foi influenciada por Liam, que a fez voltar as suas origens- toda a família da cantora é do estado do Tennessee, uma das regiões responsáveis por abrigar as raízes da cultura country. Outros, acreditam em uma possível críitica ao novo governo americano, já que o álbum apresenta uma estética extremamente conservadora.
Era Joanne, Lady Gaga
Críticos a definem como “excêntrica” e “original”. Basta olhar os seus primeiros álbuns para ver a forma como Lady Gaga expressa sua arte. Figurinos excêntricos, apresentações performáticas e turnês que conduzem o seus fãs ao universo criado por ela mesma, permitiram que a sua figura se tornasse uma referência da música pop mundial.
Em uma entrevista ao Fantástico, em 2012, ela expõe a essência de sua existência. “Os meus fãs me criaram. Eu, como artista, sou fruto da imaginação deles. Existia alguma coisa que eles queriam em uma estrela pop, e foi por isso que as portas se abriram na minha vida. Honestamente me sinto abençoada”.
Como consequência do lançamento de seu terceiro álbum de estúdio, Artpop, Gaga mergulhou em uma espécie de reavaliação profissional. Comparado aos trabalhos anteriores, este havia sido o mais ambivalente. Muitos o definiram como uma perfeita celebração do pop- Spencer Quintanilha para o PapelPOP; outros alegaram ser uma caixa de Pandora, repleta de ideias exageradas para um único material- Zeca Camargo para o G1. A partir dessa, a cantora decidiu reduzir suas produções, e, consequentemente, focar na sua voz.
Após a parceria com o cantor Tony Bennett, todos esperavam o lançamento do novo CD. Até que em setembro de 2016 a cantora lança o seu primeiro single, Perfect Illusion, junto ao seu videoclipe.
Ambientado no deserto, o clipe é o primeiro sinal da temática a ser explorada no novo álbum, que pretendia trazer a Gaga uma aparência mais simples e orgânica.
“Neste álbum eu quero que tudo saia do estúdio. Todos me veem glamorosa há dez anos. É entediante! É muito chato. A verdade é que eu quero ter um uniforme”, explica durante uma conversa em seu documentário Gaga: Five Foot Two. É então que surge a proposta visual de shorts jeans acompanhados de camiseta e botas pretas.
Definido como country-rock, o álbum é repleto de novas parcerias. De acordo com o crítico Alisson Prado, do portal WHATELSE, essa inspiração tem um possível porquê. “A motivação por trás de Indie Gaga se dê, talvez, por conta de seus novos colaboradores musicais. Pela primeira vez pode-se dizer que Lady Gaga deixou para trás produtores como Rob Fusari (“Paparazzi”), RedOne (“Just Dance”/”Poker Face”/”Bad Romance”) e Garibay (“Born This Way”/”The Edge Of Glory”). Agora ela firma parceria com o australiano Kevin Parker da banda Tame Impala, que assina a estridente “Perfect Illusion” (primeiro single, que não faz jus ao resto do disco), Mark Ronson, produtor inglês que recebeu aclamação da crítica pelo álbum ‘Back to Black’ de Amy Winehouse e BloodPop, colaborador americano que finalizou ‘Joanne’ com algumas camadas sutis de EDM (“A-Yo”, que relembra os tempos de “Manicure” em ‘artPOP’)”.
Partindo de inspirações como Amy e Dolly Parton, Gaga não só se reinventou musicalmente, como também esteticamente. A partir dessa proposta pessoal, Gaga definiu que o trabalho seria um tributo a sua tia paterna, Joanne Stefani Germanotta, que faleceu em 18 de dezembro de 1974 aos 19 anos de idade, devido à complicações decorrentes de lúpus.
A ideia de capa partiu de Gaga junto as fotografas Andrea Gelardin Ruth Hogben. O chapéu rosa foi confeccionado por Gladys Tamez e posteriormente batizado pela fabricante como “Lady Joanne”.
Quanto ao tema e a proposta country ela alega ser uma tentativa de retornar a época onde se produziam músicas sem regras. “Joanne é uma progressão para mim. Era sobre ir ao estúdio de esquecer que eu era famosa”, disse ela a revista People. “Quero mostrar para o mundo e levar comigo as histórias mais profundas que eu tenho da minha vida. Quero transformá-las em músicas, que espero que toquem as pessoas de uma maneira profunda e significante sobre suas próprias vidas e histórias”, acrescentou ao site E!.