As pessoas procuram Miguel Giannini há 50 anos com um dos desejos mais comuns do mundo: se sentirem melhor com elas mesmas. O objetivo foi alcançado em nada mais, nada menos, que 500 mil dessas pessoas. Ao lado de Miguel o espelho passou a ser menos temido por muitos, e uma dose de autoconfiança veio de brinde. Expressões mudaram, personalidades e humores vieram à tona e novos sentimentos foram descobertos com o simples trocar de uma armação. Fazer simples, mas único nas mãos dele, o primeiro e mais famoso esteta óptico do Brasil.
O conceito de esteta surgiu junto com sua ascensão, em um bate papo despretensioso no primeiro programa de TV do qual participou. Mas, sua história com os óculos começava muito antes disso, quando, com apenas 13 anos, saiu de casa para ser office-boy de uma ótica. Aos 18 já dominava todos os setores da empresa, conhecimento fruto de sua curiosidade sem fim, mesma curiosidade que cinco anos depois fez nascer sua primeira loja, em sociedade com um mestre na montagem de óculos, Fioravante Fernandes.
Ali, no balcão da Ótica Fiore & Miguel a falta de capital assombrava os sócios, continuar parecia improvável. Depois de fechar as portas, ao final do expediente, Miguel ficava na loja, tentando achar uma solução para manter o sonho de viver dos óculos. A solução veio de um alicate combinado a bastante ousadia. As peças tradicionais, nas mãos do artesão, viravam peças exclusivas. Surgia então a noção de serviço personalizado no universo óptico, que levou, junto com muito talento, Miguel ao reconhecimento que tem hoje. “De repente uma coisa maravilhosa aconteceu: eu despertei para o mundo o verdadeiro acessório”, disse lembrando do início de sua trajetória.
O dom para personalizar armações, combinar cores e materiais fez com que Delfim Neto, Ana Maria Braga, Lula, Boris Casoy e tantas outras personalidades do cinema, da tv e da política batessem na porta da ótica Miguel Gianinni procurando por orientação. “Eu procuro ir ao encontro do perfil da pessoa, que tem que criar um estilo e não copiar o de alguém”, afirmou enquanto contava sobre a mudança memorável que fez em Delfim Neto ao mudar seus óculos.
É em um casarão do Bixiga que Miguel continua a fazer com muito zelo aquilo que começou lá em 1966, conquistando cada vez mais clientes e amigos. É lá também que fica o Museu Gioconda Giannini, fundado por ele com óculos que arrebanhou ao longo de toda a vida nesse ramo. Entre armações de Rita Lee, Debora Block, Goulart de Andrade e Hebe Camargo o acervo de 700 óculos ganhou o título de maior da América Latina.
Com ar apaixonado o esteta conta, sem nenhuma hesitação, o seu segredo: fazer a pessoa se sentir bem. Fazer isso é desconsiderar moda e tendência, que para ele não valem nada se quem vestir as armações não se sentir bonito, é esquecer o óculos na vitrine, vestindo o cliente para valorizar o olho no olho. “Ora é uma criança, ora é um adulto e ora é uma senhora. É lindo, eu nunca sei o que vai me acontecer nos próximos cinco minutos, então o melhor é fazer a pessoa se sentir bem. Esse é o segredo do Miguel atuando no balcão há 50 anos”, disse terminando, com um sorriso orgulhoso, nosso papo incrível.
Por Rafaela Putini
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