Como misturar arte, design e moda para criar um projeto conceitual, que pudesse ter a participação de gente do mundo inteiro? Um dia, com esse questionamento, o designer Otávio Santiago instigou uma amiga curadora a pensar com ele e achar uma solução para a pergunta que há algum tempo martelava em sua cabeça. Ali, em uma conversa de grandes amigos, nascia o My Paper Sunglasses, um projeto de intervenções artísticas em óculos de papel.
“Comecei a pensar em um formato de suporte que fosse fácil e legal para convidar artistas de diferentes estilos, algo que fosse fácil de manusear e tivesse ao mesmo tempo uma brincadeira com o ponto de vista de quem ia fazer a obra, relacionado assim o suporte à visão do artista, ao jeito como ele vê o mundo. Foi aí que pensei nos óculos de papel, que eram fáceis de customizar e transportar”, lembrou Santiago, que já trabalha na ideia há mais de seis anos. A primeira intervenção aconteceu em Belo Horizonte, em 2010, e depois disso outras versões ganharam o mundo, fazendo o My Paper Sunglasses chegar a Berlim e Montevideo, por exemplo.
Artistas de diferentes áreas, pintores, designers, arquitetos, estilistas, entre outros, são convidados para trabalhar no suporte em formato de óculos de papel, sem nenhuma restrição de estilo ou técnica, com toda a liberdade de criação para transformar a base naquilo que o autor tiver vontade. São cerca de 30 a 50 artistas a cada edição, e o trabalho é exposto em galerias de arte que ajudam na montagem desde a preparação, na hora de fazer a curadoria. “Para a exposição a gente pede não só o suporte, mas também uma foto do artista usando os óculos. Assim, se revela também um pouco da personalidade do artista, porque normalmente a gente tem esse distanciamento entre o autor e a obra. É legal pra ver que o estilo da pessoa normalmente está bem casado com a obra que ela faz”, contou.
Só a exposição não contemplava tudo que Santiago sonhava para esse projeto, ele queria envolver uma das suas maiores paixões: moda. A partir dessa vontade ele criou também os editoriais fashion com os óculos personalizados, e o resultado foi tão incrível que pessoas de fora vieram procurar o designer para outros editoriais. “Depois que eu recebo as obras eu penso na abordagem, tanto da exposição quanto do editorial. Contrato fotógrafo e modelo e a gente monta coisas bem legais. O primeiro teve um tom mais noturno, com luz negra, já o segundo trouxe a natureza e a luz do sol como referências, eu gosto de fazer algo bem livre mesmo, não tem muitas regras”, explicou ele.
Uma das partes mais legais é a diversidade, já que, como ele mesmo pontua, têm artistas de todas as áreas participando. Segundo ele, a cada edição os participantes ficam mais ousados, trazendo novos materiais, como madeira, fibra de vidro, tecido ou borracha, e novas ideias, como a desconstrução do próprio suporte em um quadro plano ou a construção em um tridimensional de madeira com um olho mágico, que foi feita por um arquiteto. Além da variedade de áreas, Otávio valoriza a produção local, então cada exposição tem um número mínimo de pessoas do lugar trabalhando, em Montevideo 25% eram artistas locais.
Hoje o designer fica em Berlim, onde aconteceu a última My Paper Sunglasses, mas recebe obras do mundo inteiro. A ideia é fazer, no próximo ano, uma edição por lá mesmo em que no resultado final pelo menos 3 obras se transformem no real acessório. “Quero extrapolar um pouco e transformar o suporte no objeto mesmo. Já estamos conversando com algumas marcas e algumas pessoas para viabilizar isso”, pontuou. Santiago ainda deixa bem claro: todos são bem vindos. Quem quiser participar basta mandar uma mensagem com o portfólio e, caso se encaixe na proposta, eles mandam um suporte. Vale muito a pena ficar de olho nas novidades, afinal, é nosso país muito bem representado nos cenários da arte e moda internacionais.
Por Rafaela Putini
Fotos: Divulgação/ Reprodução
