Muitas vezes, aqui no Frames, mostramos feiras e marcas de alto luxo da indústria óptica que atuam em um mercado bilionário, e que procuram criar tendências para os nossos olhos. Mas, infelizmente, um lado de nossa visão não é fashion, tampouco glamuroso. Ainda existem no Brasil muitas regiões em que o acesso à saúde é precário, não somente, mas também, na área oftalmológica. Em Manaus, por exemplo, para uma população com pouco mais de dois milhões de habitantes, existem 158 oftalmologistas. Mais preocupante que esse número, são os apenas quatro oftalmologistas que atuam no interior do Amazonas.
Esses dados são todos fornecidos pelo “Projetos Amazônicos”, uma das frentes ao combate de diversos problemas oftalmológicos que afetam o povo amazonense, como catarata e a falta de óculos corretivos para população carente. Conversamos com o Prof. Dr. Rubens Belfort Jr. que, desde 2005, faz parte da iniciativa filantrópica. “Esse projeto existe desde o início da década de 1990, e vem sendo desenvolvido entre a Universidade Federal do Amazonas, a Escola Paulista de Medicina e o Instituto da Visão, sob a liderança do Dr. Marcos Jacob Cohen, lá em Manaus”, conta Belfort.
Mesmo com mais de 20 anos de projeto, ele ainda se mantém inovador, graças ao uso de tecnologias disruptivas, que oferecem maior qualidade em menor tempo. “Nós percebemos que técnicas comuns de cirurgia para catarata, por exemplo, não resolvem e nunca irão resolver os problemas que lá existem. A única maneira de solucionar essas questões é por meio de tecnologias novas e mais modernas, que é justamente uma das principais características do Projetos Amazônicos. Por isso, com apoio da indústria e de doadores, usamos a melhor tecnologia existente no mundo, lentes intraoculares e equipamentos da mais alta qualidade, especificamente da ZEISS e da Alcon. Fora isso, nossa equipe de cirurgiões, tantos os de São Paulo como os de Manaus, são de nível internacional, o que permite atender um grande número de pacientes em curto tempo, graças a técnica da Facoemulsificação, a mais avançada para remoção de catarata”, explica o professor.
Outro trabalho feito pelo grupo de professores e doutores é a distribuição de óculos corretivos para população. “Nós temos apoio da indústria óptica, que doa milhares de armações. É tão simples, barato e fácil que conseguimos entregar 500 óculos por dia. Nós não só estamos dando óculos para as pessoas mais pobres, a população como um todo é muito carente de serviços oftalmológicos. Você não faz ideia o impacto da falta dos óculos. Ano passado, em Parintins, no segundo dia em que estávamos distribuindo óculos para a população carente, uma das pessoas da enfermagem do hospital em que trabalhávamos perguntou se nós poderíamos fazer isso para os próprios funcionários. Imediatamente começamos a distribuição, e um número muito grande de atendentes nos procurou. No dia seguinte, uma das enfermeiras me disse, ‘Doutor, você não faz ideia como é bom voltar a ver a veia do paciente na hora de dar injeção’. Isso nos lembra como serviço de saúde não é apenas construir hospital, mas também dar mínimas condições de trabalho para os profissionais”.
Por último, o Prof. Dr. Rubens Belfort Jr. garante que a transformação promovida não é só na área da saúde, mas também na área social. “Uma coisa que eu aprendi com a antropóloga Ruth Cardoso, com quem trabalhei, é que temos que ensinar as pessoas a exigirem de seus governantes melhor saúde e melhor educação. O que estamos fazendo não é caridade, é algo que eles deveriam ter direito. Por outro lado, também aprendemos muito, principalmente os médicos mais jovens, que precisam entender a necessidade de atividades sociais como essa, e não apenas ficar dentro dos consultórios das grandes cidades”, conclui Belfort.
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