9 de novembro de 1989, caía o muro de Berlim. Momento simbólico, não só marco de um final, mas principalmente de um início. Mais do que o encerramento de uma época e de uma ideologia, era o começo de novas correntes, de pensamento e de ação, em todas as esferas. Na moda, isso influenciou e prenunciou o que seria a década de 90: um desligamento de vários preconceitos na hora de se vestir, refletido por uma liberdade de expressão visual que viria de um jeito nunca antes visto.
Ainda com os resquícios do decênio anterior, o princípio dos anos 90 explorou releituras históricas fashion no processo criativo. Não foi a toa que, em 1990, o Metropolitan Museum of New York abrigou a grande exposição “The Historical Mode” (A moda histórica, em uma tradução livre), com a curadoria de Richard Martin e Harold Koda. Outra referência forte que veio de herança foram as “tribos urbanas”. A moda grunge, que teve raízes em Seattle, nos Estados Unidos, conquistou a galera mais jovem, que começou a se vestir de um jeito descontraído, com peças sobrepostas, roupas oversized e a icônica camisa de flanela xadrez.
O espaço que clubbers, drag queens, cybers e ravers ganharam começaram a traduzir a moda jovem, ousada e irreverente do período. Foi a década da mistura, em que o universo fashion absorveu referências de todas as realidades, fazendo da falta de identidade a própria identidade. A moda se globalizou, se coletivizou. Caiu o muro e caíram muitas outras barreiras simbólicas. Surgiu, na mesma época em Berlim, a representativa Love Parade, um festival de música que reuniu pessoas de todas as personalidades, para celebrar o amor democrático. Ele acontece até hoje, todos os anos.
Outra característica muito forte da época, que traduz bem o espírito dos anos 90, é o descontrutivismo. Era uma tendência que consistia em desconstruir para construir, um paradoxo que surgiu da influência dos estilistas belgas, com Martin Margiela como principal defensor. Foi o início da reciclagem de peças e da preocupação ambiental, que se traduziu pincipalmente nas bainhas desfiadas e nos overlocks aparentes. Foi nessa atmosfera de paixão, liberdade, transgressão e coletividade, que a ideia de top model ganhou o mundo. A maior parte das modelos lançadas nesse período foram descobertas pela Guess, perpetuando o status de precursora que ela tinha começado a conquistar em 80.
Foi com a campanha do Claudia Jeans, clicada no Deserto Mojave na Califórnia, que Claudia Schiffer deu início a linguagem que traduziu o sentimento de liberdade e paixão tão característicos não só ao contexto dos anos 90, mas principalmente a pegada da Guess na época. A icônica foto da top em cima do carro com os braços para cima, os cabelos bagunçados e o sutiã de renda, enquanto sua blusa era balançada pelo motorista, ilustraram o que estava por vir.
Vieram então Shana Zadrick, Eva Herzigova, Karen Mulder, Anna Nicole Smith, Alessandra Ambrosio e até Drew Barrymore, que, ao posar para Wayne Maser, mostrou que realmente não existiam regras. A referência das pinups foi evidente nas campanhas da Guess de 90, que teve trabalhos inteiros inspirados em Marilyn Monroe. Para Herzigova, a visão de Paul Marciano junto à criação da fotógrafa Ellen Von Unwerth’s fizeram as imagens mais bonitas da história da moda nessa época.
Anna Nicole Smith – 1993
A Guess abraçou tanto a ideia de quebra de barreiras que fez, em 92, seu primeiro ensaio aqui no Brasil, nas praias do Rio, com Eva Herzigova, que foi descoberta por Paul Marciano em uma foto polaroid sem nenhum tipo de produção. Ele resumiu os ensaios desses 10 anos muito bem quando disse que “o contraste da beleza e glamour das mulheres no meio do nada são a parte maravilhosa da história. Onde ela está indo? O sentimento de aventura fica aparente”.
Eva Herzigova no Rio
A moda óculos da época era irreverente. Foi o período dos modelos combos, dos round glasses (armações redondas), dos esportivos e dos modelos revisitados dos anos 60, como os gatinho. Na parte de materiais aconteceu uma mistura, em que predominou o acetato e os metais dourados e prateados. As lentes espelhadas, estilo Carrie Bradshaw, de Sex and The City, também ganharam muito espaço junto com as pontes duplas, que também começaram a aparecer nessa década.
Foi em 90 que a Guess Eyewear explodiu. As campanhas fotografadas ao ar livre, na praia e no campo, não seriam nada sem os óculos de sol que compuseram fotos clássicas. Foi um momento tão importante para a marca que nos 30 anos de aniversário muitos modelos foram relançados.
Para sentir a paixão dessa época vale conferir o vídeo documental PASSION, que resume a década na Guess. Além disso, a galeria de fotos que a gente preparou vai te fazer sentir mais perto dos anos das vanguardas e da criação intensa e complexa e do começo das maiores top models do mundo. Confira: